[GUFSC] Ataque da Microsoft à soberania nacional brasileira

Paulo Francisco Slomp slomp em ufrgs.br
Segunda Janeiro 30 10:00:16 BRST 2012


[mensagem do mês de setembro de 2011...]

Sobre o ataque da Microsoft à soberania nacional: Wikileaks, Microsoft,
ODF e OpenXML

12 de Setembro de 2011

Fonte: http://www.ufrgs.br/soft-livre-edu/blog/ataque-da-microsoft

Autor: Jomar Silva

Há alguns dias fomos todos surpreendidos com um documento encontrado no
CableGate http://www.cablegatesearch.net/cable.php?id=07SAOPAULO1001,
trocado entre a embaixada norte americana no Brasil e o Governo Norte
Americano em 2007. De acordo com este documento, a Microsoft fazia
gravíssimas acusações contra o governo brasileiro, e apesar de ter se
feito de ‘tolinha’ pelo relato da reunião, pedia indiretamente uma
intervenção do Governo Norte Americano para frear o avanço do ODF no
Brasil, conseguir o apoio brasileiro para a aprovação do OpenXML na ISO,
frear a parceria entre o comitê técnico brasileiro e demais comitês
internacionais que discutiam o padrão, reduzir a influência do Brasil no
debate internacional sobre o OpenXML, além de acusar o Ministério das
Relações Exteriores e a Casa Civil de estarem executando uma campanha
anti-americana. Pior do que isso, insinuam ainda que o ODF é um padrão
anti-americano!

http://softwarelivre.org/furusho/odf/jomar-silva-latinoware-2009.jpg

Eu estava envolvido até o pescoço com tudo isso naquela época e tenho
aqui todos os detalhes de bastidores que causaram esta reunião entre a
Microsoft e o Embaixador Americano e posso afirmar categoricamente: Foi
SIM um pedido velado de intervenção.

Como esclarecimento inicial, o XML citado de forma incompleta no
documento é o OpenXML (o Open deve ter sido suprimido por quem relatou a
reunião).

Para contextualizar o documento, é importante lembrar que começamos a
trabalhar na avaliação do OpenXML no Brazil no início de 2007, e que
votamos “NÃO” à aprovação do padrão em Setembro. O resultado desta
votação
http://en.wikipedia.org/wiki/Office_Open_XML_Intermediate_5_Month_Ballot_Results 


foi a rejeição do padrão com mais de 3 mil defeitos técnicos apontados.
Mesmo assim, de forma surpreendente, o SC34 resolveu agendar uma reunião
de 5 dias para Março de 2008 em Genebra na Suiça para ‘discutirmos os
mais de 3 mil problemas técnicos’. Esta reunião se chamou Ballot
Resolution Meeting (BRM) e existe farta documentação em meu blog sobre
ela e o seu resultado final, de mudança de voto surpreendente e
aprovação do padrão.

Gostaria de deixar claro aqui que não acredito que esta reunião entre
Microsoft e o representante maior do Governo Norte Americano no Brasil
tenha sido uma iniciativa individual do Sr. Michel Levy, mas que tenha
sido uma iniciativa da corporação. Apesar de funcionário da Microsoft o
Sr. Michel Levy é brasileiro, e prefiro não acreditar que ele tenha, por
iniciativa própria, decidido se esforçar para colocar o Governo Norte
Americano contra o Governo Brasileiro, desrespeitando assim nossa
soberania nacional e nosso mérito técnico.

A primeira pergunta que deixo aqui é em quantos outros países que
votaram NÃO ao OpenXML o mesmo aconteceu, e quais destes países
“acataram”um eventual puxão de orelha por parte do governo norte americano.

Sim, o puxão de orelha pode mesmo ter ocorrido, pois se notarem a linha
geral do discurso usado aqui no Brasil, a decisão técnica nacional é
apresentada como sendo algo contra os Direitos de Propriedade
Intelectual (IPR), e uma das coisas que causam retaliação nos acordos de
livre comércio com os Estados Unidos são as violações à Propriedade
Intelectual. Estou cansado de colecionar boatos aqui dos tempos de
OpenXML, onde possíveis sanções motivadas por estas violações foram
trazidas à mesa para a negociação dos votos de governo em alguns países
(se seu país mudou de voto depois de Setembro de 2007, pode investigar
que vai encontrar um papel ‘chave’ para o governo nesta mudança de
voto). Quem sabe um dia o Wikileaks nos ajuda a investigar de forma
aprofundada isso também !

Ainda sobre a motivação da reunião, acho cômico o fato de que no último
parágrafo do documento esta escrito que a Microsoft não estava pedindo
ajuda ao Governo Norte Americano, e duvido que no meio diplomático
veríamos ali algo como “a Microsoft veio pedir ajuda pelo amor de Deus,
pois estes malditos nativos Sul Americanos estão estragando tudo !”… Se
não foi para pedir ajuda, por que motivo fizeram a reunião ? Seria o
Embaixador Americano um psicólogo especializado em frustrações
corporativas ? Será que ele é blogueiro secreto de algum site
internacional de fofoca ?

Se ele deu ‘conselhos’ à Microsoft no Brasil, será que ele pode também
me dar os números da Mega Sena se eu for até lá ?

Voltando ao documento, fico imensamente irritado ao ver a Microsoft
afirmar que o Governo Brasileiro estava pressionando a ABNT para adotar
o ODF. A Microsoft era membro do comitê da ABNT na época, e tenho aqui
uma ata de reunião a empresa concorda com a abertura do processo para a
adoção do padrão ODF no Brasil. Fui o responsável por este processo
dentro da ABNT e contamos com colaboração de diversos órgãos de governo
e empresas privadas, seguindo todas as regras internas da ABNT, sem
pressão alguma e o pior de tudo: todo o processo foi feito com
acompanhamento da Microsoft, que era membro do comitê e optou por não
nos ajudar com o trabalho de tradução do padrão  para o português do Brasil.

A Microsoft sabia que o Brasil mantém uma tradição dentro da ABNT de que
não são adotadas no Brasil as normas internacionais que contaram com o
voto de rejeição do Brasil na ISO. Em outras palavras, se a tradição não
for quebrada, o OpenXML jamais será adotado no Brasil ! (e isso no final
de 2007 era uma catástrofe para a empresa, que estava jogando pesado
tudo o que podia para conseguir o carimbo da ISO no OpenXML).

Para piorar a situação, a troca de informações entre membros dos comités
técnicos que avaliavam o OpenXML era constante, e ao ver que o Brasil
tinha dado um voto NÃO muito bem embasado tecnicamente, foi natural
começarmos a receber por aqui pedidos de colaboração de diversos membros
de outros comitês. Eu mesmo perdi a conta do número de pessoas e comitês
com quem me correspondi durante aqueles meses. Claro que novamente isso
incomodava demais a empresa, pois passamos a distribuir por aí pontos de
argumentação para os quais eles nunca teriam uma resposta aceitável, e
isso estava de fato complicando bastante a vida deles para manipular o
jogo no mundo todo.

Não vou comentar aqui as acusações feitas ao Ministério das Relações
Exteriores, mas digo apenas que se o ministério se manifestou
internacionalmente sobre os fatos da época, esta foi uma decisão
soberana e devia ser aceita por todos (e aceitar não significa concordar
ou aprovar). Trabalhar contra um posicionamento destes é trabalhar
contra a soberania nacional, e isso é inadmissível !

Acho interessante ver como o mundo dá voltas, e ver que as pessoas que a
Microsoft acusa de serem anti americanas, são atualmente o Ministro da
Defesa (Celso Amorim) e a nossa Presidenta da República (Dilma Russef),
que é acusada ainda de ser contra os direitos de propriedade
intelectual. Espero que a assessoria de ambos leiam o documento, para
que fique clara a imagem que a Microsoft tem dos dois !

Para finalizar, tentam ainda insinuar que o ODF é um padrão anti
americano. Confesso que gostaria muito de saber o que a IBM, Oracle,
Google e Red Hat (entre outras empresas americanas) pensam sobre o
padrão, uma vez que trabalham há alguns anos em seu desenvolvimento e
adoção. Na verdade eu prefiro que estas empresas expliquem diretamente
ao Governo Norte Americano se o ODF é ou não anti-americano, e espero
ainda que elas peçam esclarecimentos ao governo do seu país sobre
atividades similares da Microsoft em outros países durante os anos de
2007 e 2008.

Para quem não acompanhou a história toda, o ODF foi adotado no Brasil, o
OpenXML rejeitado por aqui e só não tivemos um papel maior no cenário
internacional pois fomos calados no último dia do BRM, justo quando
iriamos apresentar uma proposta que mudaria o final desta história. Já
contei esta história aqui
http://homembit.com/2009/10/openxml-o-que-eu-ainda-nao-contei-sobre-o-brm.html.

Obrigado ao WikiLeaks, por nos ajudar a começar a tirar os esqueletos do
armário. Para quem quiser entender como a Microsoft trata e negocia com
países que possuem políticas pró Software Livre, vale a pena ler este
outro cable aqui
http://www.cablegatesearch.net/cable.php?id=06TUNIS2424. Divirtam-se !

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MS temeu apoio do Brasil ao Open Source e ODF

12 de Setembro de 2011

Fonte: Baguete
http://www.baguete.com.br/noticias/software/08/09/2011/ms-temeu-apoio-do-br-ao-open-source

Documentos divulgados pelo site Wikileaks indicam que a Microsoft tremeu
na base com o apoio do governo brasileiro a softwares no modelo open source.

Segundo o vazamento, numa reunião ocorrida no dia 20 de dezembro de
2007, o cônsul-geral dos EUA em São Paulo, Thomas White, encontrou-se
com o embaixador dos EUA no Brasil, Clifford Sobel, e o presidente da
Microsoft no País, Michel Levy.

http://softwarelivre.org/furusho/fisl-10-dilma-olivio-m-branco-e-pres-lula.jpg

A pauta eram as preocupações da Microsoft sobre a adoção de padrões
abertos e a “ideologia antiamericana no Ministério das Relações
Exteriores”. Para Levy, o Itamaraty estava forçando a ABNT a adotar uma
postura mais agressiva contra o formato XML – usada nos softwares da
empresa –, relata o site Link, do jornal Estado de S. Paulo.

O presidente da Microsoft também disse ter cartas do Ministério das
Relações Exteriores para outros governos, pedindo a colaboração para a
adoção do formato aberto ODF como padrão internacional.

Uma preocupação especial era com a então ministra da Casa Civil, Dilma
Roussef, vista como uma das líderes das estratégias do governo contra as
leis de propriedade intelectual e royalties.

Ela teria ajudado a convencer o presidente Lula que não haveria
diferença entre o ODF e o XML.

Além disso, o presidente da MS no Brasil estaria preocupado com uma
“manifestação de antiamericanismo” em torno dos formatos.



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