[GUFSC] Patentes podem prejudicar desenvolvimento da ciência
Ricardo Grützmacher
grutz em terra.com.br
Sexta Abril 18 03:25:05 GMT+3 2003
http://www.comciencia.br/noticias/2003/17abr03/patentes.htm
Segundo Sociedade Real de Ciências, do Reino Unido, "mentalidade da
corrida do ouro pelas patentes" estaria prejudicando o desenvolvimento
da ciência
O atual sistema de patentes está dificultando o desenvolvimento da
ciência e está prejudicando, em consequência, doentes que esperam pelo
desenvolvimento de novos medicamentos. Este é o diagnóstico feito pelo
Royal Society, a Sociedade Real de Ciências (uma equivalente à SBPC
brasileira), sobre o efeito das patentes na pesquisa científica do Reino
Unido. Especialmente em áreas como a genética e a computação os
pesquisadores estão tendo o seu trabalho atrasado pois as patentes tem
um escopo muito amplo e são concedidas quando os trabalhos ainda estão
em sua fase inicial. As críticas da Sociedade estão no documento Keeping
Science Open: the Effects of Intellectual Property Policy on the Conduct
of Science (Mantendo a Ciência Aberta: os efeitos das políticas
propriedade intelectual na condução da ciência).
De acordo com o vice-presidente da Sociedade Real, John Enderby, o
patenteamento está impedindo o desenvolvimento, por outros
pesquisadores, de trabalhos correlatos ao patenteado. Ele critica
especialmente as "patentes proféticas", concedidas para contemplar
utilidades futuras ainda não concretizadas. De acordo com esse sistema,
um pesquisador que tenha patenteado, por exemplo, uma sequência de
genes, tem o monopólio sobre essa sequência e pode impedir outros de
investigá-la. Se nesse período de 20 anos alguma utilidade é descoberta
o pesquisador ganha rios de dinheiro.
Enderby acredita que deve haver um mecanismo de recompensa aos
pesquisadores mas vê que, atualmente, muitos estão obtendo lucros que
não merecem.
Outro problema do sistema de patentes é a pressão criada sobre
pesquisadores e sobre os escritórios de patentes. No primeiro caso, há a
pressão dos financiadores públicos para que os pesquisadores desenvolvam
pesquisas que dêem origem a patentes, em detrimento da pesquisa básica e
das engenharias. Já os escritórios de patentes sofrem grande pressão dos
investidores privados, em especial empresas de biotecnologia e de
software, que investiram grandes somas de dinheiro e frequentemente
requerem patentes inapropriadas.
O grande impulso para a ampliação do sistema de patentes em escala
mundial se deu com o Trade-related Aspects of Intellectual Property
Rights, o acordo Trips, estabelecido pela Organização Mundial do
Comércio, em 1994. Este acordo permitiu o patenteamento de organismos
vivos e criou as bases legais para o sistema mundial de propriedade
intelectual.
No Brasil, a busca por patentes tem também mobilizado as universidade e
as agências financiadoras de pesquisas, que vêem nesse instrumento um
meio para ampliar o financiamento privado às instituições e para
impulsionar a indústria nacional no mercado mundial. Com as patentes
busca-se também impedir a apropriação indevida das inovações
desenvolvidas com financiamento público.
De acordo com o presidente do Instituto Brasileiro de Propriedade
Intelectual (INPI), Luiz Otávio Beaklini, a patente sobre o gene da
bactéria Xylella fatidiosa, sequenciado por uma equipe de pesquisadores
financiados pela Fapesp, teve que ser requerida nos EUA para garantir a
proteção para o trabalho realizado. O Brasil não aceita a patente sobre
seres vivos, somente sobre processos técnicos. Consequentemente,
Beaklini explica que é necessário que as instituições internacionais
registrem também suas patentes no Brasil para que elas tenham validade.
"É de interesse dos norte-americanos que o Brasil reconheça
automaticamente as patentes registradas nos EUA e isso vem sendo
requerido em negociações como a da Área de Livre Comércio das Américas
(Alca) mas o governo brasileiro tem resistido a essas pressões", diz.
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