[GUFSC] Com Lula, software livre terá maior espaço

Carlos Alberto Brandão Barbosa Leite gufsc@das.ufsc.br
Sun, 15 Dec 2002 09:49:22 -0200


http://www.estadao.com.br/tecnologia/informatica/2002/dez/15/6.htm


Com Lula, software livre terá maior espaço

Este tipo de programa tem o código-fonte aberto. Ou seja, os usuários podem
conhecer e modificar a lista de comandos que forma o software.

São Paulo - Após a posse de Luiz Inácio Lula da Silva, deve crescer o espaço
do software livre na administração federal. A equipe do novo governo estuda
propostas de utilizar as boas experiências de governos locais do PT, como o
Rio Grande do Sul e a Prefeitura de São Paulo. Para usar o software livre
não é necessário pagar licenças, o que, em muitos casos, reduz o custo de
implantação de soluções de informática.

Além disso, este tipo de programa tem o código-fonte aberto. Ou seja, os
usuários podem conhecer e modificar a lista de comandos que forma o
software. O sistema operacional Linux, por exemplo, é desenvolvido com a
colaboração de centenas de programadores de todo o mundo, que trabalham de
graça para que todos possam usar um programa melhor. O software
proprietário, como Windows, exige pagamento de licença, não dá acesso ao
código-fonte e pertence a uma única empresa.

"A experiência gaúcha mostrou que é possível", afirma o deputado Walter
Pinheiro (PT-BA). "A vantagem não é só o preço. O software livre traz ganho
técnico e operacional. A produção interna de software teve êxito em diversos
órgãos do Rio Grande do Sul." Ao lado do deputado Sérgio Miranda (PC do
B-MG), Pinheiro é autor da ação que paralisou, no ano passado, a licitação
dos computadores nas escolas, realizada pelo Ministério das Comunicações. Um
dos motivos foi o pouco espaço dado ao software livre.

O crescimento do software livre no governo federal traria perdas para a
Microsoft. Bill Gates - fundador da empresa e homem mais rico do mundo -
convidou o presidente eleito para um encontro nos Estados Unidos. A visita
ainda não foi marcada. A idéia de integrantes do PT é que Lula se encontre
também com representantes do software livre, como o programador Richard
Stallman. O convite da Microsoft aconteceu em abril, quando o
diretor-presidente da companhia, Steve Ballmer, encontrou-se com Cristovam
Buarque em Seattle, nos Estados Unidos.

"A estratégia da Microsoft para atender ao governo permanece a mesma com a
vitória de Lula", diz o gerente de Marketing para Governo da empresa, Afonso
Lamounier. No ano fiscal encerrado em junho de 2002, a subsidiária
brasileira da Microsoft faturou R$ 878,5 milhões. "O governo, em todos os
níveis, não chegou a 10% do faturamento", explica Lamounier, que considera
importante ampliar o espaço de participação das compras governamentais no
faturamento da companhia. Quanto às propostas de integrantes do PT, o
executivo afirma que é preciso "separar a visão comercial da ideológica. Em
nenhuma das localidades governadas pelo PT deixamos de ser parceiros."

Concorrência - Uma das condições para a manutenção da estratégia da
Microsoft é que não sejam criadas leis que "limitem a concorrência", de
acordo com o gerente de Relações Públicas, Carlos Ximenes. "Se tentarem
cercear a competitividade, ficaremos preocupados." Na semana passada, a
Assembléia Legislativa do Rio Grande do Sul aprovou uma lei dando
preferência ao software livre. De autoria de um deputado do PT, o projeto
recebeu votos favoráveis também da bancada do PMDB, que assumirá o governo
no próximo ano.

"No Rio Grande do Sul, o apoio ao software livre já transcende aos
partidos", diz Mario Luis Teza, vice-presidente da Companhia de
Processamento de Dados do Estado do Rio Grande do Sul (Procergs). Teza
elaborou e enviou à equipe de transição uma proposta, chamada "Pão e
Liberdade", mostrando que os recursos economizados com a adoção do software
livre poderiam ajudar no Programa de Combate à Fome. O documento pode ser
encontrado no endereço www.softwarelivre.rs.gov.br.

Ele cita vários exemplos de redução de gastos pelo governo do Rio Grande do
Sul usando o software livre. Segundo o vice-presidente da Procergs, os
custos de informatização de 3.100 escolas gaúchas caíram de R$ 87 milhões pa
ra R$ 47 milhões. Com o DiretoGNU, que reúne sistemas de correio eletrônico,
agenda e catálogo, o projeto da Rede Corporativa do Governo do Estado do Rio
Grande do Sul (Rede RS) economizou entre R$ 30 milhões e R$ 60 milhões. A
Rede RS interliga 60 órgãos do governo e atende a 300 mil funcionários
públicos. O Banrisul, maior banco do Estado, deixou de gastar R$ 9 milhões
com suas iniciativas de software livre.

A questão de custos, porém, é somente um dos argumentos para a adoção do
software livre. "Até por questões de orçamento, seria difícil para o
presidente Lula levar adiante todos os projetos sem o software livre", diz
Teza. Outra questão importante, destacada pelo vice-presidente da Procergs,
é o incentivo à criação de soluções locais, o que desenvolve a mão-de-obra e
o conhecimento. "Desde que criamos o projeto de software livre no Rio Grande
do Sul, em 1999, o objetivo de desenvolver novas soluções foi o que mais
avançou."


Preço baixo
Em São Paulo, a Prefeitura adotou o software livre em seus 20 telecentros,
que atendem a 62 mil usuários da periferia da cidade, oferecendo correio
eletrônico, acesso à internet e treinamento em informática básica. No lugar
do Windows, o sistema operacional é o GNU/Linux. Ao invés do Microsoft
Office, a suíte de aplicativos é o OpenOffice. O navegador Galeon substitui
o Internet Explorer.

Devem ser criados mais 80 telecentros até fevereiro de 2003, com o objetivo
de atender a um total de 300 mil pessoas. A Prefeitura comprou 1.600
computadores para a ampliação, pagando R$ 930 por máquina. "Economizamos
quase R$ 1 mil por micro em licenças de software", afirmou Sérgio Amadeu da
Silveira, coordenador do governo eletrônico na Prefeitura. "Foi o preço mais
baixo já pago pela administração pública no País." Ele destaca que o Brasil
ainda é um mercado bastante comprador de software. O País paga anualmente
cerca de US$ 1 bilhão por ano em royalties de programas de computadores ao
exterior. "Não temos nada contra a Microsoft, mas queremos desenvolver
tecnologia aqui."

A equipe da Prefeitura paulistana passou todas as informações sobre a
experiência local ao grupo de tecnologia do novo governo. Segundo Lamounier,
da Microsoft, a empresa doou as licenças de software para a Prefeitura de
São Paulo e participa do projeto desde o começo. "Seria melhor se eles
permitissem conviver as duas soluções."

A Prefeitura optou, porém, por substituir os programas da Microsoft por
software livre. "Com o software proprietário, a cada dois anos precisaríamos
fazer atualizações, que poderiam custar R$ 2 milhões", diz Silveira. Ele
explica que o primeiro motivo para a opção pelo software livre é de
princípios. "As linguagens básicas de computação não deveriam ser
proprietárias de nenhuma empresa."

Renato Cruz