[GUFSC] Brasil pode se distanciar da Microsoft
Ricardo Grützmacher
grutz em das.ufsc.br
Segunda Novembro 17 23:45:24 BRST 2003
Fonte:
http://informatica.terra.com.br/ebusiness/interna/0,,OI213522-EI716,00.html
Segunda, 17 de novembro de 2003, 18h04
Brasil pode se distanciar da Microsoft
Se pretende mesmo cumprir a promessa de melhorar a vida de milhões de
brasileiros que vivem na miséria, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva
sabe que um dos desafios-chave é quebrar a exclusão digital. E se isso
significar evitar a Microsoft no maior país da América do Sul, assim será.
O comando da tecnologia na administração Silva quer transformar a terra
do samba e do Carnaval numa nação tecnológica na qual todo mundo, das
crianças em idade escolar aos burocratas do governo, usa programas
abertos (open source) em vez dos caros produtos Windows.
Tal política faz todo o sentido num país em desenvolvimento onde apenas
10% dos 170 milhões de habitantes tem micros em casa e no qual o
governo, atolado em dívidas, é o maior comprador de computadores, disse
Sérgio Amadeu, o entusiasta do software livre indicado por Lula para
coordenar o Instituto Nacional de Tecnologia da Informação
Pagar altas licenças de software para companhias como a Microsoft é
simplesmente "insustentável economicamente" quando aplicações que rodam
no sistema operacional aberto [GNU/]Linux são muito mais baratas, disse
Amadeu. Sob sua liderança, o governo Lula está encorajando todos os
setores do governo a mudar para programas open-source, cujo código-fonte
está disponível pública e gratuitamente.
"Temos algumas ilhas no governo federal usando open-source, mas queremos
criar um continente", disse Amadeu, um ex-professor de economia que
ganhou fama antes de integrar a equipe de Lula ao lançar uma rede de
centros de informática gratuitos na maior cidade do Brasil, São Paulo.
Amadeu, que usa um laptop com [GNU/]Linux em seu escritório, num anexo
do palácio presidencial, é autor do livro Exclusão Digital: Miséria na
Era da Informação, no qual sustenta que a lacuna entre os necessitados e
os bem-sucedidos será cada vez mais profunda a menos que os pobres
tenham facilitado seu acesso à tecnologia que está ao alcance dos dedos
dos ricos, especialmente em países em desenvolvimento como o Brasil.
Apenas dois pequenos órgãos do governo federal em Brasília - o
departamento de Amadeu e a agência de notícias do governo - mudaram até
agora do sistema operacional da Microsoft para o open-source. Mas o
Brasil assinou recentemente uma carta de intenções com a IBM para ajudar
no empurrão em direção a plataformas como o [GNU/]Linux.
Amadeu disse que está conversando com as autoridades eleitorais sobre o
uso de programas abertos nas mais de 400 mil urnas eletrônicas, 20% das
quais rodam uma variação do Windows.
Embora Amadeu insista que o governo não tem planos de obrigar o uso do
software aberto, apenas de incentivar, a Microsoft está preocupada faz
intenso lobby para evitar que esta política se torne uma lei.
"Ainda achamos que a livre escolha é melhor para as companhias, os
indivíduos e o governo", disse Luiz Moncau, diretor de marketing da
Microsoft no Brasil. "Há o risco de se criar uma ilha tecnológica no
Brasil apoiada por uma lei".
Qualquer movimento de fuga ao uso do Windows no Brasil prejudicaria
claramente a Microsoft em seu maior mercado na América do Sul. Dos US$
318 milhões ganhos pela companhia no Brasil no ano fiscal que terminou
em junho, entre 6% e 10% vieram do governo, disse Moncau.
O open-source representa uma pequena fatia do mercado global de
software, mas governos em todo o mundo começaram a mudar para este
modelo por várias razões, e entre elas, não querer ficar amarrado à
Microsoft e aos seus custos.
A administração federal em países desenvolvidos como França, Alemanha,
China e Estados Unidos adotaram o [GNU/]Linux em servidores. O custo é
um fator, embora muitos administradores de rede também considerem como
vantagens o [GNU/]Linux ser mais estável e menos suscetível a vírus e
ataques hackers.
E enquanto outros países em desenvolvimento, como a Índia, vão ainda
mais longe na promoção do uso de sistemas open-source, o Brasil está se
firmando no papel de modelo para outros países latino-americanos
interessados em cortar seus custos com computação, disse Vania Curiati,
diretora de software da IBM no Brasil.
Como fez em outros países em desenvolvimento, inclusive no Peru, onde a
companhia enfrenta o desafio open-source, a Microsoft doa programas a
escolas e organizações sem fins lucrativos no Brasil.
No setor privado, muitos companhias já estão usando ou testando a
capacidade do [GNU/]Linux, disse Curiati. No ano passado, a IBM ajudou
uma das maiores cadeias de fast-food do Brasil, a Habib`s, a instalar um
sistema [GNU/]Linux que permite aos consumidores pedir comida por
telefone e recebê-la em casa em menos de 30 minutos.
Moncau joga por terra as predições dos apoiadores brasileiros do
software livre de que os esforços do governo para aumentar o uso do
[GNU/]Linux poderiam criar empregos e transformar o país num exportador
de tecnologia. Software aberto, na verdade, pode sair mais caro do que
os programas do Windows quando os custos de serviço são considerados,
defende Moncau.
Mas tente dizer isso às dezenas de milhares de brasileiros que
regularmente visitam um dos 86 "Telecentros" com computadores instalados
em São Paulo. Todas as máquinas dos centros usam programas de código
aberto e dão acesso à tecnologia a trabalhadores brasileiros que não têm
condições de comprar computadores. Eles aprendem como enviar e-mails,
montar currículos e navegar na Internet.
Esperando sua vez num terminal enquanto embalava o filho nos braços,
Francisco de Assis disse que seu salário mensal de R$ 530 torna a compra
de um computador impossível. O vigia de 31 anos acha a situação do
governo parecida com a sua. "Se este fosse um país rico, não faria
diferença e poderíamos comprar os produtos da Microsoft, mas somos um
país em desenvolvimento e o [GNU/]Linux é muito mais acessível, então
estamos na direção de uma geração [GNU/]Linux."
AP
Mais detalhes sobre a lista de discussão GUFSC