[GUFSC][Fwd: [QuilomboDigital] Artigo: Software Livre não é reserva de mercado]

Ricardo Grützmacher grutz em terra.com.br
Sábado Maio 31 22:20:35 GMT+3 2003


Software livre não é reserva de mercado.
Velhos discursos usados para novas realidades são um prato cheio
para os "caçadores do bonde perdido".
Por Paulino Michelazzo*

Pelo menos uma vez por semana podemos ler na mídia especializada
matérias saídas das mais diferentes cabeças brasileiras, afirmando
categoricamente que a criação de leis relativas à adoção de software
livre pelos governos federal, estaduais ou municipais, deveriam ser
barradas a qualquer custo e tampouco entrar em pauta de discussão,
alegando-se uma "reserva de mercado" que poderia ocorrer da adoção
das mesmas.

Mais que uma discussão sem fundamento, os argumentos destes
"pensadores" chegam a ser histéricos no momento em que observamos de
onde partem: empresas e pessoas representantes destas, ligadas
estreitamente por um purulento cordão umbinical as grandes
companhias de software estrangeiras. Difícil entender se defendem
seu próprio bolso ou o bolso das grandes companhias e seus modelos
sanguessugas.

Quando estes "pensadores" apelam para um passado pouco distante de
reserva de mercado de informática em nosso país, "esquecem"
tendenciosamente de pontuar e mostrar as diferenças do momento atual
com o momento passado e jogam para baixo do tapete a incapacidade de
remodelação de suas próprias empresas, com a finalidade de deixar
transparecer que a adoção do software livre pelos governos seria "a
grande desgraça" do século XXI.

O mais sarcástico comentário ou posição é aquele assim dito: "Tenho
o direito de fazer software proprietário e vendê-lo como quiser. Não
devo ser submetido à uma lei que me obrigue a fazer software livre".
Com certeza sim, tem este direito e nenhum projeto de lei ou lei já
promulgada tira o mesmo de nenhuma empresa brasileira. Mas todas as
leis, sem excessão, dizem que o governo deve usar Software Livre,
preferencialmente ou obrigatoriamente. Este fato é simples de ser
explicado: o governo não deve trabalhar para uma pequena camada da
população representada por estas empresas, mas sim para todos os
brasileiros.

Se um determinado software livre é, comprovadamente, mais barato que
o software proprietário e mantém as mesmas qualidades (quando não
supera os concorrentes), inexiste a necessidade da aquisição de
produtos que pouco geram divisas para nosso país e pouco agregam
tecnologicamente à todos nós. Além disso, estas leis são criadas
para os governo e não para empresas, ficando a cargo delas (e de
seus financeiros), o custo de aquisição do que quiserem, inclusive
de software proprietário.

Neste ponto mora o primeiro grande embuste, que é escondido de todas
as formas destes argumentos. Quando da reserva de mercado de
informática, era previsto que nenhuma empresa ou governo poderia
importar computadores se não existissem similares nacionais. A
diferença hoje é que a lei diz respeito somente ao governo e não a
empresas, sejam estas quais forem.

Então temos um flagrante de verdadeira acomodação daqueles que não
querem mudar. Possuem hoje gordos contratos com o governo e estão
medrosamente preocupados em perder a mamata nacional. Mudar o foco
da empresa ou migrar é algo inadimissível para aqueles que querem
muito por pouco. Cômodo é ter uma empresa que vende "sonhos" e
entrega "pesadelos" para todos nós.

Na mesma linha de incoerências, podemos ouvir algo como "a equipe
técnica é totalmente especializada em determinada plataforma e não
pode mudar". Creio que a história não me deixa mentir ou me
equivocar quando afirmo que o ser-humano evoluiu nos últimos
milênios. Do par de fios de Graham Bell veio o telefone celular; da
observação e estudo dos morcegos veio o sonar; da caldeira a lenha
veio o motor a jato e assim por diante. Isto é o que diferencia o
ser-humano de outros "animais": a capacidade de se adaptar e criar
baseado em observação, tentativa e erro.

Desta forma, se existe no quadro de funcionários da empresa uma
equipe técnica que não é capaz de se adaptar as novas tecnologias e
tendências e mudar o foco de seu trabalho, ou não possui capacidade
de aprender uma nova tecnologia ou não quer fazê-lo. Empresas assim
precisam rever seus conceitos e trocar a equipe. O profissional é
movido a desafio e curiosidade, assim sendo, este não é um argumento
válido para a maioria deles que adoram novos desafios. Ademais, se o
problema e aprender novas tecnologias ou falta de mão-de-obra, temos
atualmente dezenas de faculdades, universidades e cursos livres no
Brasil que formam profissionais com proficiência na área de Software
Livre, não podendo então ser usado como argumento válido na
discussão.

Pensando nesta perspectiva, o que vemos realmente não é a discussão
sobre a adoção ou não do Software Livre pelo governo, mas sim se os
que brigam para que isso não aconteça podem ou não perder seus
contratos e mamatas dentro do primeiro setor. O cerne da questão
então muda de foco: passa dos interesses de todos os brasileiros
para os interesses de alguns empresários e empresas que, com seus
caixas polpudos, fazem lobby de todas as formas para que tais leis
caiam por terra.

Finalmente, no viés desta marola criada por poucos, temos várias
empresas de vários portes aprendendo realmente o que é fazer
software e, principalmente, tendo lucros com isso. Mudaram o modelo
de gestão; mudaram o foco. Pequenas empresas de um só programador
também perceberam o que gigantes como Oracle e IBM vislumbram: um
novo modelo de trabalho, um novo modelo comercial e principalmente,
não reclamar das adversidades. Enfrentam-as como todo e bom
brasileiro que se preze.

* Paulino Michelazzo, 31 é coordenador dos cursos de extensão
universitária da FIAP - Faculdade de Informática e Administração
Paulista (http://www.fiap.com.br), SuSE Education Specialist e
secretário nacional da ONG Quilombo Digital
(http://www.quilombodigital.org). O autor pode ser contatado pelo
e-mail: pmichelazzo em quilombodigital.org

Agradecimentos ao corretor ortográfico virtual Lisias Toledo



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